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Jackie


Jackie revela uma Jacqueline Kennedy, posteriormente Jacqueline Onassis, como você nunca viu. Diferente do que alguns poderiam esperar – e eu me incluo neste grupo -, Jackie não conta a trajetória de uma das primeiras-damas dos Estados Unidos mais conhecidas de todos os tempos. Não. Este filme se debruça sobre os fatos que circundaram o assassinato de JFK. Ou, em outras palavras, Jackie é a história do assassinato de JFK e de parte dos sonhos e da vida do casal sob a ótica de Jackie.

A HISTÓRIA: Jackie (Natalie Portman) caminha por um gramado. A câmera está muito próxima dela e registra uma expressão que parece ser a de choro contido. Corta. Em Hyannis Port, na cidade de Massachusetts, em 1963, Jackie acompanha a chegada de um carro na propriedade. Um jornalista (Billy Crudup) desembarca e se apresenta à porta, dando os pêsames para a ex-primeira dama.

Ela logo pergunta se ele tem lido o que outros jornalistas tem escrito. Ele diz que sim, e Jackie demonstra todo o seu descontentamento com a forma com que estão tratando o seu marido morto, John F. Kennedy. O jornalista pergunta como ela gostaria que JFK fosse lembrado, e Jackie afirma que ela vai editar o que ela quiser da conversa. Ele acaba aceitando a condição, e Jackie começa a contar a sua própria versão dos fatos.

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Jackie): Na seção que eu fui para assistir a Jackie, a maioria dos espectadores era de pessoas com 60 anos de idade ou mais. Um público que vivenciou os anos de JFK e que, provavelmente, como a maioria da audiência mundo afora, admirava a figura da primeira-dama dos Estados Unidos, Jackie Kennedy.

Para este público não foi fácil assistir a Jackie. Na verdade, para qualquer público eu imagino que não seja uma experiência fácil. Eu, que não vivi aquela época do início dos anos 1960 mas que, como quase todo terráqueo, conhece a história de JFK, de seu assassinato, todas as teorias de conspiração envolvendo o fato e, claro, a figura admirada de Jackie Kennedy, achei este um filme difícil.

Especialmente por uma razão: Jackie quebra toda expectativa do público. Esta produção não mostra um Jacqueline Kennedy dócil, serena, simpática. Muito pelo contrário. O filme destrincha toda a complexidade desta figura histórica ao mostrar fatos de sua vida pré e pós o assassinato do marido, incluindo no pacote cenas do fato propriamente dito.

Boa parte do público deve ter procurado Jackie pensando que este filme mostraria a trajetória de Jacqueline Kennedy, talvez até da Jacqueline Onassis. Eu, ao menos, que não gosto de ler sobre os filmes antes e evito assistir aos trailers das produções, achava que eu teria pela frente um interessante retrato sobre a protagonista.

Isso não deixa de ser verdade. Só que o roteirista Noah Oppenheim e o diretor Pablo Larraín fizeram uma escolha diferente. Ao invés de contar a história de Jackie desde antes do casamento com JFK e até depois de sua morte, quando se casou com Aristóteles Onassis, os realizadores resolveram focar em sua personalidade durante o episódio da morte do presidente americano.

A linha narrativa é toda cadenciada pela entrevista que Jackie dá para um jornalista, interpretado por Billy Crudup. Até a sua morte, em 1994, Jackie deu apenas três entrevistas. A primeira, que inspirou o filme Jackie, foi feita realmente poucos dias após a morte de JFK e foi divulgada pouco depois. Nela, Jackie cria o mito de “Camelot” como sendo a inspiração do marido morto.

A segunda entrevista, que Jackie queria que fosse divulgada apenas 50 anos após a sua morte, foi dada para o amigo e historiador Arthur Schlesinger Jr. em 1964 e divulgada no livro “Jacqueline Kennedy – Historic Conversations on Life with John F. Kennedy” em 2011 sob a autorização da filha do casal presidencial, Caroline. A terceira entrevista, reza a lenda, será divulgada apenas em 2067.

Como eu comentava, Jackie tem como linha narrativa a primeira entrevista divulgada com a ex-primeira-dama. A partir da conversa dela com o jornalista a história retrocede e avança na linha temporal, mostrando cenas de Jackie na Casa Branca antes da morte do marido, todos os detalhes dos fatos ocorridos logo após o assassinato de JFK, toda a preocupação da protagonista com o velório e o funeral do marido e questionamentos que ela fez neste período.

É um filme profundo, que disseca Jacqueline Kennedy de uma forma muito interessante e impactante. Natalie Portman dá um show de interpretação tanto nos momentos em que está sozinha em cena, tendo que lidar com a solidão e o luto, quanto nos momentos em que está lutando por colocar o marido e a família dela definitivamente na história dos Estados Unidos.

Mais que uma pessoa elegante, simpática e encantadora, Jackie se revela uma mulher forte, inteligente, perspicaz, afiada nas respostas para o jornalista – em mais de uma ocasião ela o questiona e o deixa constrangido – e, principalmente, uma grande conhecedora da História dos EUA e obstinada por colocar Kennedy e sua família como um capítulo importante desta mesma História.

Este talvez seja o aspecto mais interessante de Jackie. Como o roteiro de Oppenheim e a direção talentosa de Larraín revelam uma primeira-dama extremamente preocupada com o legado do marido e, consequentemente, dela própria para os Estados Unidos. Ela queria ter o controle sobre tudo, especialmente sobre a imagem dela e de JFK.

Jackie era obcecada por Abraham Lincoln, não apenas por ele ter sido um presidente dos EUA que também foi assassinado, a exemplo do marido, mas especialmente pela força da figura de Lincoln na história americana. O filme deixa claro como ela queria que JFK tivesse uma figura tão marcante para a História como tinha sido Lincoln – tanto que ela pede para examinar o cortejo de Lincoln e tentar emular algo parecido para o marido morto.

Mas mesmo antes da morte de JFK Jacqueline queria que a figura do marido e de sua família fosse marcante para a História. Esta preocupação constante com a imagem e o trabalho de Jackie para utilizar a nova “fábrica” de sonhos, manipuladora de “corações e mentes” chamada televisão a seu favor, é algo fascinante neste filme. Nos faz pensar sobre o uso da comunicação de massas, que apenas mudou de plataforma, tirando um pouco da audiência dos meios tradicionais (rádio, jornais, revistas e TV) para jogá-la nos meios digitais, a favor dos interesses próprios.

Jackie foi muito inteligente nesta forma de explorar a comunicação de massas e o poder da imagem. Neste sentido, o filme também é uma maravilha. O diretor chileno Pablo Larraín cuida para construir um filme em que as imagens jogam um papel narrativo fundamental. Ele coloca a câmera sempre próxima dos atores, permitindo que os espectadores escutem as suas conversas “ao pé do ouvido” e, principalmente, foca em cada detalhe da interpretação de Natalie Portman.

A atriz está impecável especialmente porque ela estudou cada detalhe da forma de falar, caminhar e agir da personagem histórica que ela está retratando. A ajudou neste processo, claro, o rico e variado material de imagens com a primeira-dama, incluindo o filme “A Tour of the White House with Mrs. John F. Kennedy” que está disponível neste link no YouTube e que é muito bem explorado por Larraín no filme.

Identificamos Natalie Portman, é claro, mas ela se transfigura de forma tão intensa em Jacqueline Kennedy que, em alguns momentos, parece que estamos vendo a ex-primeira-dama pela frente. É impressionante. Mais um trabalho soberbo desta atriz que, para mim, é uma das melhores de sua geração.

Como duas das três entrevistas com a ex-primeira-dama dos EUA já mostraram, ela era realmente uma mulher forte e inteligente, muito mais do que aquelas imagens históricas controladas por ela revelam. Procurando mais sobre a personagem, descobri que realmente o filme Jackie faz um retrato bastante interessante e próximo da realidade dela.

Ainda assim, como para o público em geral esta imagem mais complexa de Jacqueline Kennedy Onassis não é a mais frequente, muita gente vai se surpreender com este filme. Tanto porque ele desconstrói a imagem tradicional da protagonista quanto porque ele foca em um capítulo bem complicado da história americana. Ainda que a produção tenha algumas pílulas de história além da tragédia, 95% da produção é sobre o assassinato de JFK e sobre os fatos que o sucedem.

Por tudo isso, Jackie não é um filme fácil. Pelo contrário. Ele é um filme triste, tenso, impactante. Ajuda neste processo a trilha sonora igualmente forte Mica Levi. Ela ajuda na narrativa da produção e muitas vezes leva a tensão para outro nível. Jackie, apesar de um ou outro “defeito”, é uma produção muito interessante sobre os bastidores do poder. Ele nos conta uma história de pessoas que ficaram encantadas com o poder e com a imagem que deixariam de legado. São temas até hoje muito, muito atuais.

NOTA: 9,2.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: No geral, achei as escolhas do roteirista Noah Oppenheim e do diretor Pablo Larraín muito interessantes. Eles conseguem o que desejam, que é apresentar uma outra visão de uma personagem histórica bastante conhecida e impactar com esta narrativa.

Dificilmente alguém vai pensar em Jacqueline Kennedy da mesma forma depois de assistir a Jackie. Eles conseguem uma desconstrução muito interessante da personagem história e a humanizam. Algo importante e inspirador, sem dúvidas.

Ainda assim, eu admito que eu esperava um filme um pouco mais “amplo”, que mostrasse um pouco mais de Jackie antes e depois do fato que é narrado. Eu queria saber mais sobre a sua fase após a viuvez e sobre a sua vida antes de JFK. Esse é um dos fatores para eu ter dado a nota acima para esta produção. Acho que os realizadores poderiam ter ousado um pouco mais na narrativa, poderiam ter fragmentado ela mais e se aprofundado na leitura da personagem para outras épocas de sua vida.

Um outro fator para a nota de Jackie não ser maior é que, apesar do filme desconstruir um bocado a imagem da ex-primeira-dama, ele também ignora uma série de outros fatos da época e que foram comentados por Jacqueline Kennedy nas cartas para o padre – e, talvez, na entrevista com o jornalista.

Por exemplo, ficam de fora do filme todas as infidelidades conjugais de JFK e, possivelmente, de Jackie. Muitos comentam que Onassis já era uma figura presente na vida de Jackie antes dela se tornar viúva e que ela teve um caso um tanto conhecido com William Holden quando ainda era casada com JFK. Nada disso é explorado no filme, o que achei uma escolha um tanto equivocada dos realizadores.

Antes eu comentei que o principal fio condutor da história é a entrevista real que Jacqueline Kennedy deu para um jornalista poucos dias depois da morte de JFK. Ainda que isso seja verdade, é preciso comentar que outro trecho marcante do filme, de conversas da protagonista com um padre (interpretado por John Hurt) são inspiradas em correspondências que a ex-primeira dama teve com um padre irlandês durante 15 anos e que foram leiloadas em 2014. Nestas cartas, ela fala sobre o que sentiu após a morte do marido – incluindo aí uma certa “bronca” com Deus.

Natalie Portman é realmente o nome deste filme. E não teria como ser diferente, já que ela é uma figura praticamente onipresente na história. O filme, afinal de contas, conta os fatos sob a ótica dela. Ainda assim, em algumas cenas ela não está presente. Nestes momentos outros nomes brilham em cena. Achei impressionante a caracterização de época. As pessoas escolhidas para cada papel foram certeiras.

Além da protagonista, que faz um trabalho impecável, estão muito bem em seus papéis Peter Sarsgaard como Bobby Kennedy; Billy Crudup como o jornalista que entrevista a ex-primeira-dama; John Hurt como o padre que conversa com Jackie após o assassinato de JFK; e Caspar Phillipson com uma semelhança assustadora como JFK – ele aparece pouco, mas está muito bem em cada aparição que faz no filme.

Em papéis menores e secundários, mas igualmente bem, estão os atores Greta Gerwig como Nancy Tuckerman, assessora e braço direito de Jackie no período em que ela foi a primeira-dama; Richard E. Grant como Bill Walton, assessor da Casa Branca; John Carroll Lynch como Lyndon B. Johnson; Beth Grant como a nova primeira-dama dos EUA, Bird Johnson; Max Casella como Jack Valenti, assessor de Johnson; e Georgie Glen como Rose Kennedy, mãe de JFK e Bobby. Todos estão muito bem.

O trabalho do diretor Pablo Larraín neste filme é feito com esmero. Em diversas cenas ele mistura cenas de época, reais, com os atores que fazem parte desta produção. O trabalho é interessante e dá outra força para a narrativa. Todos sabemos que estamos vendo personagens reais tendo as suas vidas contadas nesta produção, mas é diferente quando temos esta história imersa em cenas reais. Há diversas sequências impactantes, mas sem dúvida as que envolvem o assassinato em si e a sequência em que Jackie está limpando o sangue do marido no rosto estão no rol de inesquecíveis.

Além do diretor Pablo Larraín, que se credencia como um dos nomes a ser acompanhados no cinema, merecem aplausos nesta produção o trabalho de Mica Levi na trilha sonora; o de Stéphane Fontaine na direção de fotografia primorosa; o de Sebastián Sepúlveda na edição impecável e muito detalhista; o de Madeline Fontaine com os figurinos; o de Jean Rabasse no design de produção; o de Halina Gebarowicz na direção de arte; o de Véronique Melery na decoração de set; o dos 11 profissionais envolvidos no departamento de maquiagem; os 22 profissionais do departamento de arte; os 10 profissionais que fazem um ótimo trabalho no departamento de som; e os 12 profissionais dos efeitos visuais e que propiciam aquela “mescla” entre cenas históricas e as feitas pelo diretor.

Jackie estreou no Festival de Cinema de Veneza em setembro de 2016. Depois o filme teve uma trajetória em 18 festivais pelo mundo – o último deles será o de Belgrado a partir de 3 de março deste ano. Até o momento o filme conquistou 32 prêmios e foi indicado a outros 136 – incluindo a indicação para três Oscar.

Entre os prêmios que recebeu, destaque para os 15 recebidos por Natalie Portman como Melhor Atriz, para os sete recebidos por Mica Levi por Melhor Trilha Sonora e para os dois recebidos por Madeline Fontaine por Melhor Figurino.

Jackie teria custado US$ 9 milhões – um orçamento baixo para os padrões de Hollywood – e faturado, apenas nos Estados Unidos, pouco mais de US$ 13 milhões. É uma bilheteria baixa se levarmos em conta a força da figura de Jacqueline Kennedy no país. Chega a ser admirável como o filme não decolou nos EUA.

Talvez o público da época de JFK não tenha gostado da narrativa, um tanto “pesada” para a memória de Jackie, e a história contada pela produção não tenha atraído ao público mais jovem. O que é uma pena, porque é um belo filme, muito bem feito e que com temáticas muito atuais, além de ser uma produção interessante sobre uma época importante dos EUA e do mundo.

Esta produção foi rodada nos Estados Unidos e na França. Entre as locações, destaque para os Studios de Paris, na La Cité du Cinéma; para o Easton Newman Field Airport, em Maryland (cena em que Jackie sai do avião junto com JFK); e em Tred Avon Manor, em Royal Oak, Maryland (casa de Verão da família do presidente); além das cidades de Washington e de Baltimore, nos EUA, e de Paris, na França.

Agora, algumas curiosidades sobre a produção. Jackie foi anunciado como um filme que seria dirigido por Darren Aronofsky e tendo Rachel Weisz como protagonista. Os dois acabaram pulando fora da produção, mas Aronofsky seguiu sendo um dos produtores do filme.

O diretor Pablo Larraín estima que pelo menos um terço do que vemos no filme no corte final foram rodados em apenas um take – o que reforça ainda mais o talento da equipe envolvida.

O jornalista interpretado por Billy Crudup é inspirado em Theodore H. White, jornalista da revista Life que fez uma entrevista com a ex-primeira-dama pouco depois da morte de JFK.

As filmagens foram feitas em um prazo curto para os padrões de Hollywood: duraram 23 dias em Paris e mais 10 dias em Washington e Baltimore.

O diretor Pablo Larraín disse que só faria Jackie se Natalie Portman estrelasse a produção. O produtor Darren Aronofsky concordou que ela era a pessoa ideal para viver Jackie.

Os usuários do site IMDb deram a nota 7,2 para esta produção, enquanto que os críticos que tem os seus textos linkados no Rotten Tomatoes dedicaram 218 críticas positivas e 26 negativas para a produção, o que lhe garante uma aprovação de 89% e uma nota média 8. A nota do IMDb é boa, mas está entre as mais baixas entre os filmes concorrentes ao Oscar. A nota do Rotten Tomatoes, por outro lado, é bastante boa se levarmos em conta o padrão do site.

Este filme é uma coprodução do Chile, da França e dos Estados Unidos. Por ter os EUA como um de seus países, ele entra para a lista de produções que atendem uma votação feita aqui no blog há algum tempo.

Há diversos textos interessantes sobre as entrevistas dadas por Jacqueline Kennedy e sobre esta personagem conhecida da história americana. Deixo como sugestões por aqui esta matéria em espanhol do jornal El País; esta outra do El País sobre as cartas de Jackie para o padre irlandês Joseph Leonard; esta matéria da Veja sobre a entrevista de Jackie dada em 1963; esta reportagem do português Jornal de Notícias sobre a segunda entrevista de Jackie; esta coluna de Elio Gaspari em que ele fala das três entrevistas da ex-primeira-dama; e, finalmente, esta matéria da Carta Capital sobre a vida sexual diversificada do casal Kennedy.

CONCLUSÃO: Este filme é impactante. Ele incomoda. Não apenas porque ele mergulha em uma realidade duríssima, mas também porque é um mergulho na cabeça de uma mulher que se habituou a ser fotografada a cada passo. Com uma direção interessante de Pablo Larraín, Jackie tem uma interpretação impressionante de Natalie Portman. Mais uma, aliás.

Em Jackie ela e o diretor conseguem desconstruir boa parte da imagem que temos de Jackie Kennedy. O que não é uma tarefa fácil, mas que é cumprida a risca. É um filme angustiante, até certo ponto, e pode ser uma decepção para quem tem apenas uma imagem positiva da protagonista na lembrança. Não acredito que este filme seja interessante para qualquer pessoa, mas ele tem um propósito muito claro e o realiza muito bem.

PALPITES PARA O OSCAR 2017: Era certo que Jackie teria pelo menos duas indicações ao prêmio máximo da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood: Melhor Atriz para Natalie Portman e Melhor Figurino. Além destas indicações mais que esperadas, o filme ainda emplacou uma terceira, a de Melhor Trilha Sonora.

Para mim, a interpretação de Natalie Portman neste filme, que é todo focado nela, é uma peça irretocável. A forma com que a atriz emula a voz, a forma de falar, o jeito de andar, a postura e todos os demais detalhes da ex-primeira-dama americana é algo impressionante. E não é uma tarefa simples, especialmente porque há muito material de comparação – Jackie Kennedy foi uma figura extremamente filmada e fotografada.

Fiquei arrepiada e perplexa de forma positiva com a forma com que Natalie Portman “encarnou” uma personagem tão conhecida. E fazendo algo ainda mais difícil: além de “emular” Jackie Kennedy, ela ainda imprimiu uma dinâmica para a personagem que não vimos em lugar algum. Digo tudo isso para afirmar que, sem dúvidas, ela merecia ganhar o Oscar 2017 mas que, infelizmente, isso não deve acontecer.

Tudo indica que este será o ano de La La Land. E como já comentei na crítica do filme, La La Land é a produção da vida de Emma Stone. No prêmio máximo dos atores, o Screen Actors Guild Awards, Emma Stone foi a vencedora como Melhor Atriz. Então é muito improvável que um resultado diferente ocorra no Oscar.

O bom é que, diferente de outros anos, Natalie Portman perder para Emma Stone não será exatamente uma grande injustiça, até porque Emma Stone está muito bem em La La Land – para mim, ela é um dos pontos fortes do filme que carece de roteiro. Então, apesar de fazer um trabalho mais complexo, Natalie Portman vai perder para alguém que também está bem.

Sobram as outras duas categorias em que Jackie está concorrendo. O filme tem boas chances em Melhor Figurino, mas ele tem pela frente, novamente, o “queridinho do ano” La La Land. Então sim, ele pode perder novamente nesta mesma queda-de-braço. Em Melhor Trilha Sonora ele tem chances muito, muito remotas. O favoritíssimo, e com razões desta vez, é La La Land, seguido de Moonlight.

Então, se as previsões estiverem certas e este ano for confirmado como o ano de La La Land, Jackie deve sair do Oscar 2017 com as mãos vazias. Não será de todo injusto, porque realmente La La Land é um filme muito bem acabado, ainda que lhe falte conteúdo. Jackie é denso, tem conteúdo e tem uma reconstrução de época impressionante, mas não tem a mensagem de celebração de Hollywood que o rival tem e que a indústria do cinema acha tão importante valorizar neste momento político dos Estados Unidos.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 25 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing, professora universitária (cursos de graduação e pós-graduação) e, atualmente, atuo como empreendedora após criar a minha própria empresa na área da comunicação.

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