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Mother! – Mãe!


Um dos filmes mais “malucos” e controversos que eu assisti em um longo tempo. Na verdade, se eu fosse fazer uma lista com estes predicados, provavelmente Mother! estaria no Top 5 avaliando todas as produções que eu vi até hoje na vida. Darren Aronofsky, de quem eu gosto tanto, desta vez foi um pouco longe demais. Claro que o diretor dá um show na condução da trama mas, no final, nos perguntamos para que tanto esforço. Dele e de quem assiste a este filme. Sim, há um objetivo claro nesta produção. Aronofsky, mais uma vez, alcança o seu objetivo. Mas isso não significa, exatamente, uma grande experiência para quem se lança no cinema para assistir à sua mais nova “peça de arte”.

A HISTÓRIA: Uma pessoa está pegando fogo. Enquanto as chamas queimam, uma lágrima cai pelo seu rosto. Um homem (Javier Bardem) coloca uma grande pedra transparente – que se assemelha à uma pedra preciosa – sobre um pedestal. Logo após ele fazer isso, tudo que estava queimado e que foi destruído pelas chamas volta a se regenerar e a voltar ao ponto anterior ao da destruição. A casa volta ao normal, cada detalhe, inclusive a mulher que está sobre a cama (Jennifer Lawrence). Ela acorda e caminha pela casa procurando por algo. Logo chama por “amor”, e descobrimos que ela é casada com o homem que conseguiu regenerar tudo.

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Mother): Eu gosto muito do diretor Darren Aronofsky, como eu comentei antes. Ele é um dos diretores que eu gosto de acompanhar. Destes raros que eu procuro assistir a todos os filmes que ele já fez. Algumas das produções criadas por ele estão entre as minha preferidas de todos os tempos – com destaque para Requiem for a Dream.

Depois de falar sobre este contexto pessoal, como fã de cinema e de Aronofsky, devo dizer que fiquei chocada com Mother!. Mais que nada, porque achei este filme como um dos piores – se não o pior – da filmografia do diretor. E digo isso por várias razões. Mother! é pretensioso, é cansativo, e por mais que ele faça sentido se pensarmos na história dele de trás para a frente, ele me pareceu mais “sem pé e nem cabeça” do que o desejado. Desta vez, como falei lá no início, parece que Aronofsky quis dar vasão para a sua criatividade de uma forma mais visceral e “maluca” e acabou passando um pouco do limite.

Sei bem, assim como vocês, que cinema – e qualquer outro consumo artístico e cultural – é uma questão muito pessoal. O entendimento sobre cada filme e cada obra depende muito da nossa ótica, nossas experiências, crenças, valores e um longo etc. Mas, como sempre – e isso é chover no molhado -, falo por aqui sobre os filmes sob a minha ótica. Respeito as diferenças, as outras visões além da minha, mas meu papel aqui é falar sobre o que eu vi tendo como base o meu arcabouço de conhecimento e a minha ótica.

Pois bem, afinal de contas, sobre o que fala Mother!? (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). No início do filme e por um bom período dele, pensamos que esta produção trata de um casal que passa por uma certa crise e/ou que tem buscado coisas diferentes. Ainda que esta seja a aparência, alguns elementos – especialmente a direção muito bem feita de Aronofsky – nos fazem ter, permanentemente, uma certa sensação de estranheza e até de mal estar. Algo parece estar muito errado, apesar de toda a beleza que vemos na nossa frente – não apenas da protagonista, mas da casa e do cenário em que ela se move.

Então, evidentemente, aqui – e na vida mesmo -, as aparências enganam. Sim, sabemos que há algo de “muito podre no Reino da Inglaterra”. E aí passamos por um longo período de certa estranheza e angústia e, perto do fim, por uma viagem louca e frenética de cenas diversas de destruição e violência para, no fim das contas, entender o que? No final, finalmente, chegamos ao cerne da questão. Entendemos a razão deste filme existir. Ou seja, como eu disse antes, o estranhíssimo e um tanto pretensioso novo filme de Aronofsky tem sim um significado.

(SPOILER – não leia… bem, você já sabe). No final, bem no final, entendemos que a protagonista é a “musa inspiradora”, literalmente as lembranças de casa/das origens do poeta – e, claro, entendemos quem é aquele sujeito que está no comando de tudo o tempo todo. Assim, a personagem de Jennifer Lawrence, que nos créditos do filme recebe o nome de “Mother” – mas que durante o desenrolar da história é chamada de “meu amor”, “musa”, entre outros nomes – é, no fim das contas, as memórias que o protagonista tem da sua própria casa, do seu lar, de um lugar que não existe mais mas que o inspira para escrever a sua obra.

Em outras palavras, a personagem de Jennifer Lawrence é a “musa inspiradora” do poeta. Por isso mesmo que ela, após uma noite de paixão com o protagonista, consegue engravidar e, depois, dá a luz à “obra-prima” do protagonista. O personagem central de tudo isso, contudo, é o escritor/poeta interpretado por Javier Bardem. Ainda que a câmera de Aronofsky esteja permanentemente “colada” em Lawrence, acompanhando cada passo dela, toda aquela realidade e tudo que acontece com o “casal” só existe porque o personagem de Bardem existe.

No final das contas, parece que Aronofsky também brinca de ter em Lawrence a sua musa inspiradora. Afinal, é nela que a câmera dele está sempre focada ou próxima. Ela dita os movimentos do diretor. É como se ele não pudesse nunca perder de vista a sua inspiração – diferente do protagonista, que se encanta com vários outros elementos além da sua noção de “lar”. Encantado com o sucesso, muitas vezes ele se esquece da sua fonte de inspiração e dá as costas para ela.

Por sua parte, como a câmera está sempre acompanhando Lawrence, percebemos sob a ótica da inspiração os efeitos do desamor, do abandono e do esquecimento. Aquele sensação de estranheza e de certa angústia é provocada justamente pela falta de sintonia entre o que a inspiração do poeta deseja – apenas ele – e o que o próprio escritor lhe apresenta como resposta para os seus apelos.

Ou seja, para resumir, ao contrário do que pode parecer no início, este filme é uma grande reflexão sobre como as lembranças de um lar, as recordações da origem (e do amor) servem de inspiração fundamental para um artista/poeta e para a sua obra. E como este escritor/poeta/artista pode ser cruel, infiel ou inconstante em relação à sua fonte de inspiração quando começa a fazer sucesso e/ou volta a ser endeusado.

Mother!, no fim das contas, é uma viagem pessoal de Aronofsky sobre a fonte de inspiração de todo artista e de como esta fonte pode incomodar ou ser violentada/atacada de formas muito diversas em regimes totalitários, durante guerras, perseguições e uma bela variedade de conflitos. A inspiração e a arte estão sendo atacadas e sempre foram atacadas em diferentes lugares durante muitos períodos da História. E Aronofsky parece ter resolvido falar disso de uma forma bastante inusitada. Com Mother! o próprio diretor resolve fazer um trabalho mais “artístico”, mas será mesmo que ele conseguiu fazer esta entrega de forma perfeita?

Vou dividir esta resposta em duas partes. Em relação à direção, sem dúvidas Aronofsky faz mais uma entrega exemplar. Ele tem uma dinâmica interessante de câmera, cuidando de valorizar sempre a personagem de Jennifer Lawrence. Toda a narrativa está sob a ótica dela. Afinal, ela é a protagonista, a peça-chave de toda a produção. Ela inspira o artista, o poeta, e sem ela nada existiria. A musa inspiradora do protagonista e deste filme fica realmente no centro do “tablado” o tempo inteiro, e o esforço da direção de Aronofsky não é apenas de seguirmos de perto o que ela faz, mas também de sentir o mesmo que ela – incluindo bastante estranheza, confusão e mal estar.

Neste sentido, tanto a direção quanto boa parte do roteiro de Aronofsky fazem sentido e são coerentes – especialmente se pensamos no filme do final para o início. Porque, desta forma, tudo faz um pouco mais de sentido. Mas e o roteiro? Aronofsky também acerta no roteiro? É nesta parte fundamental de qualquer filme – para mim, sempre a parte central de uma produção – que o diretor/roteirista derrapa. É justamente em várias escolhas do roteiro que ele sugere ter uma obra pretensiosa demais. Vejamos.

Se a intenção do diretor era mostrar o quanto uma “musa inspiradora” é fundamental para um artista e o quanto ele pode se deixar levar pela fama, pelos fãs, pelo “circo” todo que envolve uma obra aclamada e, ao fazer isso, esquecer a sua musa e maltratá-la com esta indiferença, era preciso mesmo tanto ir-e-vir de personagens estranhos na história? O fã que chega sozinho e depois é seguido pela mulher e pelos filhos… eles realmente precisavam ocupar tanto tempo da história?

E, depois, quando o diretor vai inserindo outras pessoas em cena que “invadem” o espaço da “musa inspiradora” e que tornam a angústia dela cada vez maior, até que somos arrebatados por uma sequência maluca de diversos episódios da História em que a arte/a musa inspiradora foram atacadas, nos perguntamos: toda aquela “verborragia” cênica era realmente necessária? Ou foi apenas uma forma do diretor mostrar a sua capacidade? Da minha parte, tudo isso me pareceu o esforço de um artista de mostrar que ele sabe pintar com cores fortes e de forma “mais livre”. Mas isso nem sempre resulta em uma obra de arte como ele gostaria.

Sim, Aronofsky é um grande diretor. Ele sabe conduzir bem uma trama e os atores envolvidos neste projeto fazem um belo trabalho. Mas no final das contas Mother! se apresenta um filme longo demais, um bocado repetitivo e arrastado. E tudo para nos contar uma história sobre um artista e a sua musa inspiradora, e sobre como o mundo e os seus exageros corrompem esta relação que poderia ser perfeita. Enfim, lembrando uma obra de William Shakespeare, achei este filme “muito barulho por nada”. Ou quase isso.

Quando sai do cinema, fiquei um bom tempo pensando sobre a nota que eu daria para esta produção. Admito que, por gostar tanto de Aronofsky, eu comecei dando uma nota mais alta do que esta que vocês podem conferir abaixo. Se compararmos este filme com outros muito medianos que eu comentei aqui no blog e que, por alguma razão ou outra, acabaram recebendo um 8 ou um 8,5, provavelmente concordaríamos que estes outros filmes medianos são “menores” do que Mother!. Mas a nota abaixo foi dada apenas na perspectiva deste filme, sem tentar compará-lo muito com outros.

Pensei, na verdade, mais na obra de Aronofsky e no que eu acho que ele poderia ter apresentado em uma nova produção. E tendo isto como critério, mais do que o que eu tenho visto de outros diretores, é que eu resolvi dar uma nota mais baixo. Admito, sim, que eu esperava mais de Aronofsky. Até pelo que ele já nos apresentou. E se você começou a ver este diretor com Mother!, saiba que ele é muito melhor. Da minha parte, gosto muito de Requiem for a Dream, Pi e Black Swan (comentado aqui). Procure assisti-los, caso ainda não o tenha feito.

NOTA: 7.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: Eu assisti este filme no cinema. E achei interessante a reação das pessoas. Algumas desistiram do filme antes mesmo dele acabar. Notei isso, primeiro, com algumas pessoas abaixo de mim na sala acessando o tempo todo o smartphone, pouco interessadas naquela trama “circular” e repetitiva que estava passando na telona. Depois, algumas pessoas simplesmente saíram do cinema antes do final da trama. Respeito todas as opiniões, sempre, mas isso é algo que eu me recuso a fazer. Não importa o quanto o filme seja ruim ou me desagrade. Eu fico até o final.

Outras reações foram interessantes quando eu sai da sala de cinema. Na minha sessão haviam muitos jovens. Possivelmente pessoas que conheceram Aronofsky com o seu maravilhoso Black Swan, lançado em 2010. Estas pessoas saíram insatisfeitas do cinema. Algumas não entenderam a “moral da história”, o que o filme quis dizer. Outras – e dou razão para estas pessoas -, reclamaram do filme ser classificado como “horror” e “mistério”. Realmente, nada a ver ele estar na categoria “horror”. No fundo, Mother! é um drama sobre um artista e a sua busca incansável pela “fonte” de sua inspiração – a sua própria noção/lembrança de lar. Então, meus caros, é essencialmente um drama. Entendo a frustração de parte do público.

Ao fazer Mother!, Darren Aronofsky saiu muito da curva de tudo que um fã dele poderia esperar do diretor. Sim, ele é um sujeito criativo. Grande diretor, que domina muito bem os recursos e as técnicas do cinema. Mas com este filme ele caminhou em uma direção “artística” (entre aspas mesmo) muito diferente do que tínhamos assistido até então. Para mim, Mother! se assemelha muito a The Tree of Life (com crítica neste link), de Terrence Malick. Os dois filmes são controversos e dividem opiniões. São, ambos, do estilo “ame ou odeie”. E os dois sofrem do mesmo mal: tentam ser melhores do que realmente são.

Mas, admito, ainda que Mother! se assemelhe a The Tree of Life, eu ainda prefiro o primeiro. E isso tem tudo a ver com a minha admiração muito maior para Aronofsky do que para com Malick. Agora, como fã do diretor, o que eu espero é que ele nos apresente algo melhor na próxima vez.

Durante grande parte do filme, Mother! tem um grupo pequeno de atores em cena. Depois, o diretor descamba para uma “enxurrada” de pessoas que aparecem em cena como uma “invasão bárbara”. Muitos nomes, assim, aparecem quase como figurantes. De todos os atores envolvidos no projeto, sem dúvida o destaque principal vai para Jennifer Lawrence, que está linda e que faz um grande trabalho, repassando todo o desconforto e a paixão que a sua personagem pede. Em seguida, vale destacar o bom trabalho – ainda que não excepcional – de Javier Bardem como o escritor/poeta que tem uma relação profunda de amor com a sua musa inspiradora – mas que não cuida dela como deveria.

Além dos protagonistas, vale citar o bom trabalho de Ed Harris como o fã do poeta que procura o seu ídolo antes de morrer; Michelle Pfeiffer como a mulher dele; Brian Gleeson como o filho mais novo do casal e Domhnall Gleeson como o filho mais velho.

Lá pelas tantas Mother! descamba para uma violência considerável. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Esta acaba sendo a parte mais “louca” e criativa da produção – e que contrasta tanto com aquele “bucolismo” um tanto irreal anterior e que preenche boa parte do filme. Não é fácil ver a “musa” do poeta sendo agredida ferozmente. Também chega a dar um bocado de arrepios o fim que o “filho” do casal acaba tendo – mas devemos lembrar, nesta parte, que a criança era a nova obra do poeta, gerada pela união dele com a sua “musa inspiradora”. Ou seja, não era uma criança de verdade, e sim uma obra que acabou sendo vilipendiada e “devorada” pelos fãs do artista. Nesta parte, Aronofsky quer nos dizer que todos somos canibais quando se trata de uma obra. Queremos devorá-la e acabar com ela para satisfazer a nossa fome “por algo belo”. O diretor/roteirista está fazendo uma crítica mordaz sobre o consumo cultural e sobre o público que quer ter as suas vontades sempre satisfeitas, não importa como.

Comentei rapidamente, durante a semana, logo após assistir ao filme, que este não era o melhor trabalho de Aronofsky. Algumas pessoas se manifestaram com comentários lá. Agradeço à participação de Thales Salgado, Andressa Barroso Vieira e Enzo Santos. 😉 Por lá, o Thales perguntou o que eu tinha entendido sobre aquele líquido que a personagem de Jennifer Lawrence tomava de tempos em tempos. Respeito outras opiniões e formas de entender aquele trecho do filme, mas vou dizer aqui o que eu achei, beleza?

(SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Vamos olhar a questão de forma um pouco mais ampla. Quando tudo é destruído e volta a se regenerar, a “musa inspiradora” acorda e busca o seu amor, o poeta, correto? Neste começo, e por uma parte do tempo – até as “invasões bárbaras” começarem a acontecer -, a “musa” está sempre buscando o amor do poeta e vive uma certa “tranquilidade” em uma reforma do “lar” que parece ser sem fim. Neste começo pacífico, a musa literalmente sente o lar como um organismo vivo. Mas, conforme a história vai avançando e o poeta vai se distanciando da sua musa, a personagem de Lawrence vai se sentindo cada vez mais e sente que o “organismo vivo” do lar está se deteriorando, como que passando por um tipo de câncer – ou, se olharmos por outra ótica, voltando para o estágio de destruição/carvão após o fogo. A deterioração do sentido de lar – que, no fim das contas, é o que representa a musa do poeta – vai ocorrendo aos poucos e vai se manifestando de diferentes formas.

Cada ameaça para a tranquilidade e a idealização da relação entre a musa e o poeta parece provocar dor e início de perda de sentido para a musa. Sim, ela está sendo ameaçada. Os elementos externos simbolizados pelos fãs do poeta – mas que significam também dinheiro, fama, holofotes e, depois, guerra, perseguição, ditaduras, conflitos variados – representam perigo para a musa. Inicialmente este risco era enfrentado por ela com o tal líquido dourado. O que ele representa? Para mim, qualquer dose de algo que possa tranquilizar a inspiração de um artista. Aquele líquido serve como um “elixir” de inspiração. Alguns se inspiram e/ou se conectam com a sua fonte de inspiração bebendo, enquanto outros conseguem isso com drogas ou outras formas de “religar-se” com o que lhe inspira – no caso do protagonista, com a ideia de “lar” original. Então eu não acho que exista apenas uma resposta para a pergunta. Mas acho que o líquido representava uma forma da inspiração manter-se sólida apesar das ameaças externas.

Da parte técnica do filme, sem dúvida alguma o destaque vai para a direção de Aronfosky. Ele faz um belo trabalho, especialmente ao decidir sempre ter a câmera perto da protagonista Jennifer Lawrence. Claramente também ele opta por uma direção “fluída”, que faz com que o nosso olhar esteja sempre deslizando pelo espaço daquela casa que é tão protagonista quanto a musa e o poeta. Além disso, o diretor sabe valorizar bem o trabalho dos atores em cena.

Para que o filme tenha a entrega competente que ele tem – pena que o roteiro seja o ponto falho -, foi necessário o bom trabalho de outras pessoas. Destaco, neste sentido, o trabalho de Matthew Libatique na direção de fotografia; de Andrew Weisblum, com um trabalho excepcional na edição; de Philip Messina no design de produção; de Isabelle Guay e de Deborah Jensen na direção de arte; de Danny Glicker nos figurinos; de Larry Dias e Martine Kazemirchuk na decoração de set; assim como o ótimo trabalho dos 14 profissionais envolvidos com a maquiagem; dos 17 profissionais que fazem um trabalho excepcional com um elemento fundamental para a história, que é o som; e o impressionante número de 173 profissionais envolvidos nos efeitos visuais desta produção – que, ok, é um elemento importante no filme, mas que convenhamos… não o torna melhor. Para verem como o roteiro realmente é uma parte fundamental. Mother! é bem acabado, tecnicamente falando, mas não é brilhante ou inesquecível.

Estava pensando agora… alguns podem ter pensado sobre a razão do título deste filme ser “Mother!”. (SPOILER – não leia… bem, você já sabe). Para mim, este título faz referência à “mãe” de todas as artes: a inspiração que move o artista. Seja ele poeta, escritor, artista plástico, músico ou cineasta. E a “mãe” de toda a arte, segundo Aronofsky, seria a lembrança de lar que o artista tem. E isso é fato. Várias e várias obras singulares na História da humanidade, se pararmos para pensar, tem a ver com as lembranças que o artista tem e/ou a noção que ele próprio apresenta de lar, daquilo que ele entende como as suas origens e o seu amor mais duradouro.

Mother! estreou no dia 5 de setembro no Festival de Cinema de Veneza. Até outubro, ele terá participado de outros sete festivais. Como estamos partindo já para o final de 2017, impossível não pensar se este filme chegará com fôlego no próximo Oscar. Da minha parte, acho que não. Mas veremos se estou certa ou errada logo mais. 😉

Esta produção teria custado cerca de US$ 33 milhões. Grande parte do recurso gasto, imagino, nos cachês dos protagonistas/elenco e com os efeitos especiais. De acordo com o site Box Office Mojo, Mother! fez cerca de US$ 15,3 milhões nos Estados Unidos e pouco mais de US$ 13 milhões nos outros países em que ele já estreou. Ou seja, até o momento, teria feito cerca de US$ 28,3 milhões. Verdade que esta produção tem uma história recente. Ainda assim, me parece, vai fechar no vermelho. E, francamente, isso não me surpreende.

Agora, algumas curiosidades sobre esta produção. De acordo com as notas de produção de Mother!, este filme tem como as suas inspirações evidentes filmes como Rosemary’s Baby, dirigido por Roman Polanski e lançado em 1968, e Collective Unconscious, dirigido por Dylon Matthews e lançado em 2004. Me chamou a atenção a nota alta deste segundo filme, com nota 9,9 no IMDb.

A atriz Jennifer Lawrence e o diretor Darren Aronofsky começaram a namorar durante as filmes de Mother!. Realmente ele parece ter achado a sua musa inspiradora. 😉 Espero que ela lhe inspire a apresentar algo melhor da próxima vez.

Para explicar um pouco a “confusão” artística de Mother!, acho interessante citar parte de algumas declarações de Aronofsky sobre o filme. Ele começa comentando que acha incrível como muitas pessoas ainda neguem a destruição do planeta que a humanidade está causando com a sua “pegada” no mundo. E que foi a angústia e o “desamparo” provocado por esta reflexão que fizeram, um certo dia, o diretor acordar de manhã com a ideia de Mother! surgida como um “sonho febril”. Enquanto os filmes anteriores do diretor surgiram após o trabalho dele no roteiro desenvolvido durante alguns anos, a primeira versão de Mother! surgiu em apenas cinco dias – isso explica o porquê deste ser o seu pior roteiro, acredito.

Um ano depois do diretor ter escrito a primeira versão do roteiro de Mother! ele já estava filmando a produção. E, dois anos depois, tinha ela pronta para apresentar para o público. Da minha parte, sempre fui da opinião que o quanto mais você trabalha e se dedica para uma história, melhor ela sai. Mother!, para mim, é o sonho filosófico de um diretor que quer denunciar algo e que apresenta isso de forma visceral. Nem sempre isso quer dizer bom.

De acordo com Aronofsky, Mother! começa como uma história sobre um casamento. No centro desta história está uma mulher que é estimulada a dar, dar, dar até não poder dar mais nada. Eventualmente, comentou o diretor, a câmera que foca esta história não consegue conter a pressão que está “fervendo” dentro desta visão. E daí a história se torna, segundo o próprio Aronofsky, “outra coisa que é difícil explicar ou descrever”. Percebemos. hehehehehe. Aronofsky também diz que não sabe identificar, exatamente, de onde tudo que ele nos apresenta neste filme veio.

Parte teve origem nas “manchetes dos jornais” de cada dia (com as suas notícias ruins), parte veio do “zumbido interminável de notificações dos nossos smartphones”, outra parte veio do apagão provocado pelo furação Sandy no Centro de Manhattan, e outras partes vieram do “coração e do instinto” do diretor. Aronofsky diz que o resultado de tudo isso é algo que ele nunca será capaz de reproduzir novamente, e que tudo acabou sendo “servido” como um bêbado que toma a sua melhor dose em um único “shot” de bebida. E que esta bebida bate no bêbado de volta. Bem, talvez essa seja a explicação, afinal, daquele líquido que a “musa” do filme toma. 😉

A atriz Jennifer Lawrence mergulhou tanto em sua personagem que, na cena do clímax da produção, a atriz começou a hiperventilar e até quebrou uma costela – certamente naquela sequência maluca de agressões que ela passa.

Mother! recebeu uma classificação “F” do CinemaScore. Este é o pior resultado que um filme pode obter. Por isso mesmo, é uma classificação rara. Apenas 19 filmes receberam, antes, a classificação “F”.

Esta produção recebeu tanto vaias quanto aplausos na sua estreia no Festival de Cinema de Veneza. Eu entendo. Como eu disse antes, é um filme controverso. Bem ao estilo “ame” ou “odeie”. Da minha parte, não achei ele tãooooo ruim assim. Mas também não achei ele ótimo. Acho que fico mais sobre o muro – e sim, ele seria melhor com meia hora a menos.

O ponto de exclamação no título do filme, segundo Aronofsky, faz alusão aos últimos 30 minutos “efusivos” da produção.

Esta produção obteve apenas US$ 7,5 milhões de resultado nas bilheterias em seu final de semana de estreia nos Estados Unidos. Este resultado torna Mother! como o pior resultado nas bilheterias para um filme estrelado por Jennifer Lawrence.

Antes de Mother! começar a ser filmado, o elenco ensaiou a produção durante três meses em um armazém para que o diretor pudesse testar os movimentos de câmera e aprender com eles para que, quando as filmagens começassem para valer, tudo estivesse fluindo como ele desejava. Deu certo. O filme realmente tem uma direção incrível.

Hummm… e agora alguns comentários do diretor que desmontam totalmente o que eu tinha entendido do filme. hahahahahaha. Mas faz parte, né? Filmes “artísticos” tem muito isso. Cada um entende de uma forma e todos estão certos sobre as suas compreensões. Mas, vejam bem… Aronofsky acabou falando sobre as intenções dele com esta produção. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Segundo o diretor, o título Mother! realmente faz alusão à Mãe Natureza. Jennifer Lawrence interpretaria essa Mãe Natureza, e os demais personagens todos fariam alusão à personagens bíblicos. Por exemplo, Javier Bardem está apenas identificado como Ele e, por isso, ele seria Deus. Ed Harris seria Adão, e Michelle Pfeiffer seria Eva. Os filhos do casal seriam Caim e Abel.

Hummmm… Posso falar e ser franca? Agora sim eu acho que ele pirou. Com todo o respeito. hahahahahaha. Sob esta ótica, a Mãe Natureza só quer saber de Deus, e Este acaba ignorando ela e deixando ela sozinha muitas vezes porque está mais fascinado com a Humanidade e a adulação que as pessoas fazem Dele? Olha, ainda prefiro a minha interpretação do filme. Me parece menos absurda. 😉 E fiquei pensando… sob esta ótica “bíblica” do diretor, quem seria o bebê devorado pelo coletivo? O nosso futuro? Ok, até faz sentido, mas acho ainda mais loucura do que a visão “artística” que eu citei acima.

Até porque, sob esta ótica “bíblica” do diretor, o Deus apresentado por ele seria egoísta, suscetível a ter o ego inflado pela Humanidade e pouco amoroso com grande parte da sua criação, representada pela Mãe Natureza, não? Beleza. Entendo que o diretor esteja bravo e que vá “contra Deus”, mas esta visão é totalmente contra a visão dos cristãos, correto? Enfim, achei, sob esta ótica, a obra ainda mais desnecessária. Mas respeito o diretor. Só acho que ele perdeu uma boa oportunidade de não entrar na seara da fé e de apresentar algo melhor…

Os usuários do site IMDb deram a nota 7,0 para esta produção. Achei ela muito boa, levando em conta o padrão do site. Por sua vez, os críticos que tem os seus textos linkados no Rotten Tomatoes dedicaram 173 críticas positivas e 84 negativas para a produção, o que lhe garante uma aprovação de 67% e uma nota média de 6,7.

Para quem, como eu, gosta de saber onde os filmes foram rodados, Mother! foi totalmente filmado na cidade de Montreal, no Canadá. Ainda assim, esta é uma produção 100% dos Estados Unidos – e, por causa disso, ela atende a uma votação feita há algum tempo aqui no blog.

Honestamente? O filme merecia até menos que um 7. Mas como eu gosto do diretor… não consegui abaixar a nota menos que isso. Espero que me perdoem. 😉

CONCLUSÃO: Este é o filme mais ousado, experimental e artístico do interessante diretor Darren Aronofsky. Mas nem por isso, ou por causa de tudo isso, este não é o seu melhor filme. Está bem longe disso, na verdade. Desta vez Aronofsky abriu todas as comportas da sua imaginação para nos apresentar um filme que é um grande libelo sobre a criação artística. Ok, a obra é interessante se entendida do final para o começo. Mas e tudo que passamos até chegar ao momento da “eureca”? Achei esta produção longa demais e com tintas um tanto forçadas para apresentar o conceito que ela apresenta. Não apenas este não é o melhor filme do diretor como ela também não é tão “obra de arte” quanto o diretor gostaria. Deixa o público perplexo, mas não imprimi realmente uma marca na lembrança do cinéfilo. Será esquecido com uma certa facilidade. Uma pena.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 25 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing, professora universitária (cursos de graduação e pós-graduação) e, atualmente, atuo como empreendedora após criar a minha própria empresa na área da comunicação.

7 respostas em “Mother! – Mãe!”

Oi Alessandra. Primeiramente sou fã deste blog e aguardei ansiosamente sua crítica de Mother! Mas recomendo que o reveja, numa segunda chance, agora com total alusão à história do mundo, conforme a Bíblia. São muitas sacadas legais! O primeiro livro que deixou o escritor famoso é o Velho Testamento. E com o advento do filho, no meio do filme, ele corre a escrever o Novo.
Pense na casa e na Mãe como esse nosso mundo. Adão chega e Deus se empolga com sua criação (Deus caminhava conversando com Adão no Paraíso, correto?). Logo após a cena do corte na costela Eva aparece. Eles tinham total liberdade pela casa, menos… Pois é! O escritório de Deus é o Jardim do Éden e é por isso que ele expulsa Adão e Eva de lá ao mexerem na única coisa que não podiam. E enfurecido, lacra a porta. (Sacou?) Surgem Caim e Abel, há o primeiro assassinato entre irmãos e depois a casa vai sendo “maltratada” por cada vez mais visitantes. Note que a pia quebra, vaza água e encharca tudo e logo depois todos desaparecem da casa… Dilúvio!
Bom, resumindo, chega-se no bebê, obviamente Jesus, o Filho de Deus. O fato dos homens matarem e comerem a criança – olha que genial! – resume muito bem a era de Jesus, pois a humanidade o crucificou, o adora e não é que os religiosos não comem do seu corpo e bebem o sangue, ritualisticamente?
Surgem guerras, as religiões (note como os adoradores se apresentam nesta parte). Enfim, a humanidade desrespeita a Mãe Natureza desde então, até chegar ao brutal espancamento, simbolizando a atualidade. Veja como o caos da guerra começa à moda antiga e ao final as armas são modernas… É outro “resumo genial”! (Pois não daria para alongar e detalhar muito a vida de Jesus e o progresso crescente).
E qual o desfecho bíblico para nosso mundo? Apocalipse, certo? “No começo acabou com água, mas o povo ainda não creu. Agora vai acabar com fogo…” era assim a letra de um corinho da igreja pentecostal que eu ia quando criança. Finalmente, até o desfecho do Apocalipse é mostrado, com “os novos céus e a nova Terra”, fechando o filme maravilhosamente bem.
Nossa! Será que pensando que o filme é uma forma de contar a Bíblia, a história do Mundo e o que a humanidade faz com o planeta, ainda assim você continuará o vendo como o pior do diretor?
E será que temos a sensação do filme ser “indigesto” e incomodar, justamente por ser como um dedo apontado pra nossa cara o tempo todo? Aqueles chutes cruéis na cara da Mãe, infelizmente são nossos, como espécie.
Que achou desta visão? (Perdoe pelo textão, não resisti)
De toda a forma, este Blog é Dez! Parabéns! Prometa não nos abandonar? Quantos ótimos filmes eu vi graças à você… Deslizo a página pra ver a nota que deu e, se é 10 ou quase, corro a assistir. Esta foi a primeira vez que discordei de uma nota. Espero ter colabora. Bj

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Olá Paulo!!

Antes de mais nada, muito obrigada pela tua visita e pelo teu comentário.
Fico feliz de saber que você frequenta o blog há algum tempo e que gosta deste espaço.

Estranhamente ontem, quando fizeste este teu comentário, ele caiu no “spam”. Vi que duas pessoas tinham comentado no blog, depois de eu publicar a crítica, mas, ao ver quem tinha publicado, só vi o comentário do Thales, abaixo. Achei estranho, porque eu tinha recebido duas notificações. Ainda bem que hoje eu resolvi olhar no “spam” e a tua mensagem estava lá, junto com a de alguns russos. 😉

Paulo, como acompanhas o blog há algum tempo, sabes bem que eu respeito todas as opiniões. Inclusive as divergentes. Sendo assim, super respeito o que você me disse, mas me dou o direito de discordar. hehehehehe

Primeiramente, vou me poupar de ver a Mother! novamente. Eu só assistiria a ele novamente se eu não tivesse mais nada de bom ou de razoável para assistir no cinema ou em casa. E como acho que isso nunca vai acontecer – afinal, temos tantos filmes bons atualmente e feitos em mais de 100 anos de cinema e que eu ainda não vi… -, vou dispensar de assistir a esta produção novamente.

Como este foi o último filme que eu assisti, tenho ele bem fresco na minha memória. E ao saber sobre a ótica do cineasta, consegui perfeitamente pensar no filme inteiro sob está visão “bíblica” do Aronofsky. E isso só reforçou ainda mais a minha compreensão que o filme é mediano – para não dizer equivocado… não consigo ser tão “cruel” com Mother! porque realmente gosto muito do diretor. E isso afeta o meu parecer – que deveria ser mais honesto.

Francamente, eu tinha achado o filme mediano encarando ele sob a ótica que eu comentei. Ao pensá-lo como um filme “bíblico”, acho ele ainda pior. E vou explicar as razões de achar isso. Mother! me parece um filme de alguém que está indignado com Deus e que resolve fazer um filme sobre isso. E com uma série de equívocos de quem realmente não conhece a Bíblia e/ou o cristianismo. Sim, este blog não é sobre religião, mas já que o filme tenta abordar isso, sou obrigada a falar a respeito.

(SPOILER – aviso aos amigos do blog que eu vou falar de partes do filme que eu não recomendo você saber se você ainda não assistiu à Mother!). Primeiro que não faz o mínimo sentido o bebê que é gerado da “noite de paixão” entre Deus e a Mãe Natureza ser Jesus. Ok, o diretor pode até querer simbolizar Jesus naquela criança, mas isso não faz nenhum sentido. Quem é cristão e conhece a Bíblia sabe que Jesus é Filho de Deus e só de Deus… a Mãe Natureza não teve nada a ver com isso. Ah, ok, Jesus “precisou” de Maria para nascer e ser também, além de Deus, humano. Mas uma coisa é Maria, outra é a Mãe Natureza, não?

Acho muito sem pé nem cabeça aquele bebê ser Jesus. Além disso, segundo o que comentaste, se a primeira obra de Deus mostrada no filme foi o Velho Testamento, e ele fica muito tempo em “crise criativa” até que consegue fazer o Novo Testamento, que seria a segunda “obra” mostrada pelo filme, na qual aumenta o número de “seguidores” e de “fãs” de Deus por causa desta nova obra, novamente é muito nonsense esta ideia. Afinal, o Novo Testamento só surgiu por causa de Jesus Cristo. Todo o Novo Testamento conta a história Dele sobre a Terra. Então como o Novo Testamento pode ser “gerado” e atrair tantas multidões para a Casa de Deus sem o Filho Dele ter nascido ainda? Não faz o menor sentido.

Finalmente, outro ponto fundamental deste “nonsense” ruim de Aronofsky é toda aquela “evolução” da história com um aparente caos e destruição final – que você considerou como sendo o Apocalipse – em um loop sem fim. Outro ponto totalmente sem sentido. Então quer dizer que toda santa vez Deus passaria pelos mesmos erros, como ficar “fascinado” com Adão, permitir que Caim matasse Abel e todo o demais caos que acontece na sequência sem conseguir Ele, o Onipotente e Onisciente, mudar o que estava acontecendo? Então teríamos uma Criação, um desenrolar de tudo aquilo e um Apocalipse sem fim?

Honestamente, eu não voltei a rever a minha nota depois que eu li sobre a visão do diretor. Porque, para mim, a minha versão é igualmente válida à dele… e eu prefiro a minha. Porque se eu for me limitar à visão do diretor, se for avaliar o filme sob esta ótica bíblica, aí sim que a nota despencaria ainda mais.

Entendo que algumas pessoas – e o diretor de Mother! incluído, me parece – se revoltem contra Deus. Que passem a enxergar Ele como uma pessoa egoísta, que necessita ser “adulada” ou que se regozija da própria obra sem se importar com a “Mãe Natureza”. Entendo, de verdade. Mas isso não quer dizer que eu deva compartilhar desta visão ou que deva achar bacana um filme de alguém que está revoltado com Deus.

Aronofsky, assim como qualquer outro diretor, tem todo o direito de fazer o filme que lhe der vontade. Respeito isso. Mas, da minha parte, sinto uma grande preguiça de quem volta e meia, por esta ou aquela indignação, resolve fazer um filme sobre a Criação, Deus e afins. Outro tipo de cinema me atrai muito mais. Religião é algo que, realmente, acho que não deve ser discutida pela Sétima Arte. Mas ok, entendo todas as manifestações artísticas e tal. Só me reservo o direito de ter preguiça sobre este tipo de obra.

Enfim, deixemos Aronofsky com os seus demônios, suas insatisfações e alegrias. Todos nós passamos por isso, não é mesmo? Só espero que ele largue um pouco as ideias bíblicas e nos apresente algo mais humano na próxima vez. Acho que ele acertou mais quando fez isso antes e, da minha parte, gosto mais deste tipo de filme.

Mesmo discordando de você, Paulo, super agradeço a tua visita e teu comentário. E quero que entendas que eu respeito o teu ponto de vista. Que bom que você está no grupo de pessoas que gostaram do filme. Infelizmente, desta vez, estamos em times opostos. 😉

Apareça por aqui mais vezes, inclusive para falar de outras produções. Abraços e tudo de bom!

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Na sessão de estreia aqui em São Paulo não lembro de ninguém saindo da sala de cinema. Houve, sim, casos de pessoas gritando impropérios para a tela. Esse lado da obra permitir a quem assiste reagir é uma das coisas que torna o ato de ir ao cinema fascinante e vi reação parecida quando vi o Animais Noturnos no começo do ano.

Na questão de quem seria o filho, indo pela ótica “bíblica”, seria Jesus. Até por haver aquela passagem quando ele reparte o pão e diz que é o corpo sendo repartido. Se formos falar da importância disso no filme, seria outra história. Parece estar lá para chocar mesmo. O trabalho da equipe conduzindo o som é preciso. Realmente causa arrepios.

Pode ser uma questão de viés confirmatório rs mas preferi sua interpretação do filme à essa questão religiosa. Ela é possível, claro, só que dá a impressão de o Aronofsky querer “forçar” uma única interpretação ao filme dele a cada entrevista que dá e isso desfavorece a própria obra.
De qualquer maneira, é curioso ele querer trazer uma obra em que tudo acaba em fogo após ter realizado Noé. Já que a Terra não mais seria destruída por um diluvio e sim pelo fogo que é um elemento de destaque nessa narrativa de mãe!

Num primeiro momento eu pensei que o remédio fosse para controlar “algo” como o que ocorria com o Max em Pi, que também teve episódios de ver o apartamento reagindo. Por não estar sob o efeito do medicamento a mãe teria acesso à memória cíclica da casa, passando a experimentar eventos vividos por suas predecessoras e essa seria a razão de ser da “verborragia cênica”. Mas não consegui argumentos que sustentassem isso excetuando termos uma mulher em chamas no início da projeção e, após ocorrer o mesmo com a personagem da Jennifer Lawrence, a mulher a despertar na cama é uma terceira atriz. Por isso gostei de seu ponto sobre o “elixir”.

Concordo contigo em muitas partes, como quando você fala de precisarmos satisfazer nossa fome com algo belo. Sua interpretação é ampla, colocando a arte em contexto histórico/social e como ela sofre com suas ameaças. Achei muito rica.

No meu caso, saí da sala de cinema com uma versão pessoal e minimalista. Complementar? O problema desse poeta retratado no filme seria sua inspiração surgir da destruição e do caos e, afim de obter isso, ele se dispõe a negligenciar sua companheira. O descaso d’Ele para com ela é gritante. Diz que ficará ali, até o momento seguinte quando surge qualquer outra coisa a chamar sua atenção.

Ele precisa do amor dela por uma conveniência criativa, ama ser amado e seu retorno a esse amor são esparsas migalhas de atenção. Ela o acolhe, e ele, escorregadio, viverá resoluto de que, em sua arte, ele é intocável e superior. Quando sua esposa já não puder oferecer mais nada ele pedirá mais: a devastação da vida como declaração de amor. E então encontrará outra musa. Essa interpretação levaria em conta a mãe como uma “pessoa real”, apenas idealizada como musa. Vendo assim a personagem interpretada por Bardem é um artista tirano. Me veio à mente uma canção da banda Travis, Re-offender, que diz ‘You say you love me and then you do it again, You say your sorry’s and then you do it again’. E era assim que eu via as ações dele.

A reação de Lawrence ao descobrir não ter sido a primeira leitora do poema, o que ela julgava seria um momento de merecimento pela companhia e dedicação… Tendo já vivido algo assim, dadas as devidas proporções, isso me marcou.

Como adoro histórias com essa temática da criação, creio não esquecerei tão cedo. Quando visto diante da obra anterior do diretor ele, de fato, empalidece. Se o filme chegar ao Oscar será por muito lobby da produtora. Ficarei na torcida para que, como você disse, a Jennifer Lawrence inspire o Aronofsky a apresentar algo melhor. Hahaha

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Olá Thales!

Bom te “encontrar” por aqui também!

Sim, gosto de filmes que mexem com as pessoas. Que provocam, que tiram a gente da zona de conforto. Gosto muito também de produções que deixam margem para mais de uma interpretação. Este me parecia ser o caso de Mother!, até que eu vi que o Darren Aronofsky divulgou um “manifesto” antes da estreia em Veneza. Da minha parte, como fã de cinema, achei isso totalmente desnecessário.

Terrence Malick também tem filmes que não são óbvios. Assim como Kubrick e tantos outros diretores. Mas diferentes de Aronofsky, eles não falavam de suas obras. Deixavam os filmes sob a livre interpretação de seus públicos. E, na minha humilde opinião, é assim que tem que ser.

Como comentei com o Paulo ali em cima, eu não revi a nota que dei para Mother! depois de saber qual era a visão do diretor sobre o filme. Preferi continuar com a minha interpretação de Mother! e, por isso, a nota permaneceu. Se eu fosse avaliar o filme sob a ótica do diretor, a nota seria ainda mais baixa.

Algumas razões para isso eu já citei no comentário acima. Muito, mas muito mesmo de Mother! não faz sentido sob a “ótica bíblica” que o diretor defendeu. (SPOILER – recomendo que as pessoas não leia a partir daqui se não firam o filme ainda). Como eu comentei, não faz sentido algum o bebê que é devorado pelos “devotos”/”fanáticos” ser Jesus.

Primeiro porque Jesus não nasceu de uma gestação da Mãe Natureza. Quem conhece a Bíblia sabe que Ele é filho de Deus – Maria foi apenas instrumento para este nascimento, mas a Mãe Natureza não teve nada a ver com isso. Depois, seguindo um pouco a interpretação do Paulo – que me pareceu coerente segundo a “viagem” do diretor -, Deus teria criado o Novo Testamento antes de Jesus ter nascido? Não faz o mínimo sentido já que todo o Novo Testamento é baseado justamente no que Jesus fez após ter nascido.

Concordo contigo sobre o Aronofsky querer forçar a barra. Em todos os sentidos. Entendo que o diretor estava “puto” com o mundo, com a humanidade e possivelmente com Deus quando pensou neste filme. Afinal, ele via tanta baboseira e indiferença acontecendo por aí, as pessoas destruindo o mundo e etc. e tal, mas daí a querer fazer um filme que mostra Deus como ele mostrou… achei totalmente desnecessário e uma forçada de barra sim. Segundo a minha ótica, claro. Outras pessoas podem achar o filme brilhante – até porque devem concordar com o diretor.

Mas ele teria ganho muito mais pontos deixando as pessoas tirarem as suas próprias conclusões do filme do que “defendendo” essa ótica de um filme “bíblico” em cada entrevista. Enfim, acho que ele se perdeu um pouco. Citei antes outros diretores que fizeram filmes com interpretação aberta e que nunca saíram por aí defendendo o seu ponto de vista. Prefiro este estilo, sem dúvidas.

Legal a tua lembrança sobre uma certa “autorreferência” do diretor – aquela parte que citas de Pi. Tens razão. Não me lembrava disso, mas sim, em Mother! temos um elo de ligação com Pi. Sob o ponto de vista “bíblico”, honestamente, não sei muito bem o que pode ser aquele líquido “tranquilizante” que a Mãe Natureza toma de tempos em tempos. Talvez aquele líquido representasse alguma “boa ação” da humanidade – como a preocupação com a preservação da Natureza – ou algum “antídoto” temporário que Deus desse para a Mãe Natureza reagir às suas crises. Enfim, um tanto estranho…

Também é muito estranha esta “visão bíblica” do filme se observarmos que, segundo o roteiro, Deus precisaria da Mãe Natureza como a sua inspiração. Por causa dela é que teria surgido a sua segunda obra-prima. Ora, desde quando Deus precisa da Mãe Natureza como inspiração? Enfim, achei a visão do diretor bastante confusa e equivocada.

Mas voltando para o teu ponto de visto. Para o que tu sentiu quando saiu do cinema. Para mim, faz muito mais sentido isso tudo que comentaste. Acho sim que a tua visão é complementar à que eu tive. De fato, o protagonista deste filme “explora” de todas as formas a sua musa, até que exige dela o sacrifício final. E como tantos outros artistas brilhantes, que são autocentrados e egoístas, depois que ele “exaure” a sua musa atual, facilmente procura outra. Estás certíssimo!

E sim, podemos pensar na protagonista como uma pessoa real que é “adotada” como musa pelo poeta. Gostei das tuas referências. Para mim, também faz todo o sentido esta ótica do filme visto como processo artístico/construção e/ou busca de um artista. Vou tentar manter esta ideia para não achar o filme tão nonsense.

No mais, Thales, obrigada pela tua visita e pelo teu comentário. Espero que apareças por aqui – ou na página do Facebook – mais vezes. Abraços e inté!

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Acho que o filme ele serve pra você abrir a cabeça as analogias que ignoramos na vida para refletirmos. Até o momento não vi ninguém falar sobre, mas eu senti o mesmo que senti quando assisti Deus da Carnificina, dado também ao fato que vivi algo recentemente na família que me fez viver esse sentimento, o famoso “teto de vidro”, que ninguém quer falar dos problemas porque é muito complicado, mas é melhor ignorar e fingir que nada acontece e seguir com a vida. Senti isso em mother!.

Pensando como tratamos as problemáticas da vida. A destruição da natureza, as guerras religiosas, guerras de ego, guerras territoriais, o fanatismo desenfreado, a figura feminina na sociedade e o quanto ela já sofreu na história e ainda sofre, a luta das minorias por respeito e igualdade, todos os problemas que estão todo dia na nossa cara e pouquíssimos realmente se importam em discutir sobre essas questões e tantas outras “porquê o papo é chato e a vida é legal”.

Sendo assim: tá tudo ruindo, tá tudo podre, pessoas podres, mas ninguém faz nada a respeito porque o teto de vidro é muito sensível para ser quebrado, “não vamos falar do assunto porque é muito complicado” e fica todo mundo ignorando os problemas e sustentando as aparências porque é mais fácil.

Tem um excesso de alegoria gigantesco no filme, mas quando você resolve interpretar cada coisa você vai longe, faz uma semana que eu tô vivendo esse filme e toda hora me vem a interpretação de algo e minha cabeça explode de novo.
É como quando você lê uma fábula e questiona “o que essa fabula quis dizer?”. O filme tá cheio de “fábulas”, prontinhas pra acabar com minha saúde mental e me deixar mais louca que o normal HAHAHA.

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[…] Bem, os personagens até são interessantes. Os atores, em especial, fazem um grande trabalho. Todos os que eu citei até agora – menos Katie Holmes -, incluindo Channing Tatum, estão muito bem em seus papéis. Mas o problema é mesmo o roteiro previsível e cheio de lugares-comum de Rebecca Blunt e a direção preguiçosa de Steven Soderbergh – este é o ano, parece, de bons diretores fazerem trabalhos apenas medianos, vide Darren Aronofsky com o divisor de opiniões do ano Mother! – que eu comentei por aqui. […]

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